quarta-feira, 16 de junho de 2010

SOBRE PESSOAS E SUA SUPOSTA NORMALIDADE


Quando se faz uma visita a um ambiente que não atinge seus preceitos tudo fica mínimo. Os olhares parecem te acercar e ainda trazem a sensação de que você não pertence àquele sistema - levando em conta o sentimento de mal-estar e vontade de correr. Minha maior revolta é ver os sorrisos amarelos que convencem. É ver que tudo ali é real e que PESSOAS se prestam a assistir tal espetáculo. Ontem, sozinha, fui refém do peso de não saber cozinhar e me desloquei a um lanche aqui próximo mesmo. Pouco a pouco as mesas começaram a serem preenchidas e não demorou muito um carro super potente estacionou na calçada principal, e acredite: começou o show. Batidas frenéticas computadorizadas direcionavam a noite a um desastre auditivo e nonsense. O pedido finalmente chegou a minha mesa, foi quando um alívio imediato se tornou presente em minha cabeça. Na chegada do garçom pedi para que o mesmo fizesse o favor de colocar o lanche à entrega, pois não desejava presenciar os próximos minutos, que por acaso não seriam muito bons. O garçom sem pesar atendeu meu pedido rapidamente e por fim perguntou: "você é roqueira não é?"... Preferi dizer que não e só apenas "leitora". Sei que de certa forma as pessoas associam o desafeto ao gosto comum ao afeto pelo rock ou ainda evangelho, o que sinceramente é um porre, porque soa como se tudo fosse tão lindamente planejado que só os roqueiros ou seguidores assíduos do cristianismo seriam capazes de contrariar. O que essas pessoas deveriam ter aprendido nas suas infâncias é que nem tudo que é comum é o melhor. A simpatia pelo mesmo cantor/filme/novela e etc. pode sim ser decorrente de uma jogada safada de marketing, que diga-se de passagem está cada vez mais veemente. A propaganda é uma ferramenta poderosa para esse admirável mundo novo, que não lê e dedica-se única e exclusivamente ao que alcança suas pequenas cabecinhas, que não atravessam fronteiras e não saem do lugar nem usando o boné de Aristóteles. Revoltante não é ter que se auto-firmar ignorante em meio a essa sociedade mesquinha, porque veja, criamos o nosso próprio sistema quando buscamos uma fonte de informação. Não digo que essa informação possa vir unicamente de um livro raro da antiga biblioteca de alexandria, mas sim vindo da música em que o indivíduo se colocar a ouvir, ao ambiente em que frequenta e a sala de bate-papo constante que é o nosso convívio interpessoal. Toda ação em sociedade gera uma fonte de conhecimento, então não acredito na ausência da cultura, e sim na difamação que ela adquire ao decorrer do seu percurso. Não é que esse momento da história esteja perdido ou seja o pior de todos eles. Esse século só está aberto as lacunas, ferido intelectualmente e limitado aos meios de pesquisa. Eu espero e muito que as ferramentas educacionais sejam alteradas e que o Brasil possa conseguir não apenas índices de melhora em gráficos, mas que isso se converta em leitura por prazer e não somente por obrigação. Feliz será o dia em que grandes clássicos serão discutidos em praça pública. Feliz será o dia em que a esperança irá se sobrepor as ilusões.

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Araguaína, Tocantins, Brazil
Uma fã da obra do cineasta Stanley Kubrick. A laranja mecânica lida por Jack Nicholson. Uma apaixonada por Thomas Hobbes. Uma entre centenas de revoltados pela fragilidade do príncipe regente D. João. Anti-censura/falácia/grito sem voz. Membro do exército de ideais Napoleônicos. Revolucionária que ainda não achou sua causa. Estudiosa da obra Clariciana. Defensora do blues e seus afluentes. Refém das palavras do Sir. Fiódor Dostoiévski e Arthur Conan Doyle. Habitante imaginária da biblioteca de Alexandria. Quem sobrevive da frieza dos relatos literários europeus do século XVIII. Ex- garota-simpática.

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